quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Minha Garotinha


Vicky Tavares

Quando ela foi morar comigo estava muito feliz! Não cabia em si de tanta felicidade e tudo era novidade. Logo, fui matriculá-la  no colégio ao lado de meu bloco. Ela não via a hora de começar. Passou dezembro, janeiro e fevereiro contando  os dias para as aulas começarem.

Uniforme novo, mochila nova, estojo, lápis, cadernos, agenda, enfim... Estava muito alegre e não escondia isso de ninguém! Tinha encontrado uma família para adotá-la e agora queria abraçar o mundo com as mãos. Estava se considerando uma pessoa muito importante!

Eu fazia questão de dizer e demonstrar também minha alegria em tê-la comigo. Seu quarto foi todo decorado com tudo que ela gostava. Até a cor foi escolha dela. Na instituição era calada, mas depois virou uma tagarela! Nos primeiros dias ela ia toda feliz para a aula, depois começou a reclamar, imaginei que não estava gostando de estudar.

Só que o tempo foi passando e minha menininha estava cada dia mais deprimida. Pedi à motorista que chegasse minutos antes do acostumado e que a observasse. Foi aí que fiquei chocada. Minha filha ficava no pátio isolada de todas as outras crianças.

Quando eu  a deixava no colégio, sentia que a senhora que ficava na portaria me olhava com curiosidade e não respondia ao meu cumprimento. Todo dia vinha reclamação dela. Fiquei assustada porque a menina que eu tinha adotado não era mais a mesma.

Foi então que caiu a ficha e perguntei: - Filha, você contou na escola que tinha o vírus HIV? Ela então me respondeu: - Contei mamãe, mas depois que contei todos ficaram tristes comigo.  Então falei: - Querida não devemos contar nossa vida particular para ninguém.
Fui para casa arrasada! Chorei a noite toda. 

Resolvi procurar a diretora da escola para comentar o que eu já vinha observando. Ela foi super mal educada e quis disfarçar. Alertei então, que tomasse cuidado porque ela era preconceituosa e abusada. Saí de lá muito mal.

No outro dia fui visitar uma outra escola e pedi a transferência dela. Atualmente, ela estuda com pessoas que a respeitam e que tem muito carinho por ela. Não comenta mais nada sobre sua sorologia e quer ser amada como todos nós!

2 comentários:

  1. Puuuuts que raiva dessa gente.....como isso ainda pode existir? infelizmente o que um amigo me diz é verdade "o mundo é mau e agente morre no final".....=/

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  2. Vicky,
    é realmente muito triste ver que a própria instituição que deveria acolher a criança a exclui em suas diferenças. Como pesquisadora e estudante, tenho presenciado isso sob diversos pontos de vista, além da questão soropositiva que você cita. Crianças com transtornos diversos, crianças criativas, que questionam... A escola exclui o diferente e tenta homogeneizar o que mais belo hà em cada um; a nossa subjetividade.
    Que possamos nos unir e, juntos, transformar essa realidade. Dia a dia, a cada oportunidade. Que não percamos a fé e batalhemos com as energias mais positivas.
    Um grande abraço da amiga,
    Bruna Regina.

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