Vicky Tavares
Quando ela foi morar comigo estava muito
feliz! Não cabia em si de tanta felicidade e tudo era novidade. Logo, fui
matriculá-la no colégio ao lado de meu bloco. Ela não via a hora de
começar. Passou dezembro, janeiro e fevereiro contando os dias para as
aulas começarem.
Uniforme novo, mochila nova, estojo,
lápis, cadernos, agenda, enfim... Estava muito alegre e não escondia isso de
ninguém! Tinha encontrado uma família para adotá-la e agora queria abraçar o
mundo com as mãos. Estava se considerando uma pessoa muito importante!
Eu fazia questão de dizer e demonstrar
também minha alegria em tê-la comigo. Seu quarto foi todo decorado com
tudo que ela gostava. Até a cor foi escolha dela. Na instituição era calada,
mas depois virou uma tagarela! Nos primeiros dias ela ia toda feliz para a aula,
depois começou a reclamar, imaginei que não estava gostando de estudar.
Só que o tempo foi passando e minha
menininha estava cada dia mais deprimida. Pedi à motorista que chegasse minutos
antes do acostumado e que a observasse. Foi aí que fiquei chocada. Minha filha
ficava no pátio isolada de todas as outras crianças.
Quando eu a deixava no colégio, sentia
que a senhora que ficava na portaria me olhava com curiosidade e não respondia
ao meu cumprimento. Todo dia vinha reclamação dela. Fiquei assustada porque a
menina que eu tinha adotado não era mais a mesma.
Foi então que caiu a ficha e perguntei:
- Filha, você contou na escola que tinha o vírus HIV? Ela então me respondeu: -
Contei mamãe, mas depois que contei todos ficaram tristes comigo. Então
falei: - Querida não devemos contar nossa vida particular para ninguém.
Fui para casa arrasada! Chorei a noite
toda.
Resolvi procurar a diretora da escola para comentar o que eu já vinha
observando. Ela foi super mal educada e quis disfarçar. Alertei então, que
tomasse cuidado porque ela era preconceituosa e abusada. Saí de lá muito mal.
No outro dia fui visitar uma outra
escola e pedi a transferência dela. Atualmente, ela estuda com
pessoas que a respeitam e que tem muito carinho por ela. Não comenta mais nada
sobre sua sorologia e quer ser amada como todos nós!
Puuuuts que raiva dessa gente.....como isso ainda pode existir? infelizmente o que um amigo me diz é verdade "o mundo é mau e agente morre no final".....=/
ResponderExcluirVicky,
ResponderExcluiré realmente muito triste ver que a própria instituição que deveria acolher a criança a exclui em suas diferenças. Como pesquisadora e estudante, tenho presenciado isso sob diversos pontos de vista, além da questão soropositiva que você cita. Crianças com transtornos diversos, crianças criativas, que questionam... A escola exclui o diferente e tenta homogeneizar o que mais belo hà em cada um; a nossa subjetividade.
Que possamos nos unir e, juntos, transformar essa realidade. Dia a dia, a cada oportunidade. Que não percamos a fé e batalhemos com as energias mais positivas.
Um grande abraço da amiga,
Bruna Regina.