quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Passou a fazer parte da minha vida!


Keila Faria - Voluntária

Foi participando de um programa de apadrinhamento de crianças institucionalizadas que cheguei ao Vida Positiva, que desde então passou a fazer parte da minha vida! Conheço muitas casas de acolhimento, mas a dedicação da Vicky (Presidente da ONG) me tocou muito e mudou meu modo de ver as pessoas.  

Um lar! Foi isso o que eu encontrei nesse lugar. A rotina lembra muito a de qualquer família, só que em proporções bem maiores. Contas a pagar, funcionários, comida, escola, boletim, dever de casa... Sem falar no fantasma do preconceito. Todos esses desafios diários são enfrentados com muita dedicação, trabalho e amor de uma pessoa que deixou sua vida para dedicá-la aos portadores do HIV ou aos seus familiares.

Nunca imaginei que o preconceito com o portador desse vírus, ainda fosse algo tão forte, em um mundo moderno e cheio de informações. Só depois de conhecer as histórias dessas crianças e adolescentes e ver o modo corajoso  com que a Vicky  luta contra isso é que percebi que essa é uma luta que só esta começando.

Foi no Vida Positiva que comi o melhor feijão e a melhor farofa do mundo e ainda  descobri que o amor nunca é demais!

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Muitas vezes o preconceito começa na família!


Vicky Tavares

A mãe faleceu de HIV e em seguida a garotinha de 3 anos começou a adoecer. Uma pneumonia atrás da outra. Fizeram os exames e foi constatado o vírus HIV. Imediatamente a família separou talheres, pratos, roupas de cama e a isolaram em um cômodo da casa. Praticamente vivia no hospital acometida de doenças oportunistas.

Quando voltava para casa dormia em uma esponja. A cama que ganhou de presente ficou para a irmã. Ninguém se importava com ela. Pensavam: “Vai morrer mesmo!”.

Quando eu a conheci ela tinha 9 anos. Não aceitava ninguém. Devolvia na mesma moeda. Foi à conquista mais difícil da minha vida. Tirei-a da casa onde morava e fiz um trabalho de muito amor com ela.

Hoje está com 19 anos, linda, maravilhosa, carga viral zerada, CD 4 alto e é minha grande amiga! Não conta para ninguém sobre o HIV. Visita raramente a família. Está envolvida em um verdadeiro laço de amor, onde se abraça, se beija e se respeita as diferenças.      


quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Minha Garotinha


Vicky Tavares

Quando ela foi morar comigo estava muito feliz! Não cabia em si de tanta felicidade e tudo era novidade. Logo, fui matriculá-la  no colégio ao lado de meu bloco. Ela não via a hora de começar. Passou dezembro, janeiro e fevereiro contando  os dias para as aulas começarem.

Uniforme novo, mochila nova, estojo, lápis, cadernos, agenda, enfim... Estava muito alegre e não escondia isso de ninguém! Tinha encontrado uma família para adotá-la e agora queria abraçar o mundo com as mãos. Estava se considerando uma pessoa muito importante!

Eu fazia questão de dizer e demonstrar também minha alegria em tê-la comigo. Seu quarto foi todo decorado com tudo que ela gostava. Até a cor foi escolha dela. Na instituição era calada, mas depois virou uma tagarela! Nos primeiros dias ela ia toda feliz para a aula, depois começou a reclamar, imaginei que não estava gostando de estudar.

Só que o tempo foi passando e minha menininha estava cada dia mais deprimida. Pedi à motorista que chegasse minutos antes do acostumado e que a observasse. Foi aí que fiquei chocada. Minha filha ficava no pátio isolada de todas as outras crianças.

Quando eu  a deixava no colégio, sentia que a senhora que ficava na portaria me olhava com curiosidade e não respondia ao meu cumprimento. Todo dia vinha reclamação dela. Fiquei assustada porque a menina que eu tinha adotado não era mais a mesma.

Foi então que caiu a ficha e perguntei: - Filha, você contou na escola que tinha o vírus HIV? Ela então me respondeu: - Contei mamãe, mas depois que contei todos ficaram tristes comigo.  Então falei: - Querida não devemos contar nossa vida particular para ninguém.
Fui para casa arrasada! Chorei a noite toda. 

Resolvi procurar a diretora da escola para comentar o que eu já vinha observando. Ela foi super mal educada e quis disfarçar. Alertei então, que tomasse cuidado porque ela era preconceituosa e abusada. Saí de lá muito mal.

No outro dia fui visitar uma outra escola e pedi a transferência dela. Atualmente, ela estuda com pessoas que a respeitam e que tem muito carinho por ela. Não comenta mais nada sobre sua sorologia e quer ser amada como todos nós!

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Vó, vou preferir entregá-lo nas mãos de Deus.

Vicky Tavares

Acompanhei muitos casos de discriminação desde que passei a me dedicar aos portadores do vírus HIV. Conto  aqui no blog as histórias desses cidadãos que tanto sofrem com o preconceito. Antes de mais nada, a palavra de ordem é: respeito!

 Ele tinha 11 anos e frequentava a escola como qualquer outro garoto da mesma idade. Dócil, inteligente e muito brincalhão... Já nasceu com o vírus. Foi infectado por transmissão vertical, de mãe para filho. Sempre acometido de doenças oportunistas, teve uma otite que se tornou crônica. Hoje aguarda cirurgia para costurar os tímpanos que se romperam.

A escola pública de Taguatinga tinha conhecimento da sorologia das crianças e adolescentes do Vida Positiva. Na época colocamos adesivos referentes à Casa no carro da Instituição e não poderíamos imaginar quanto transtorno isso causaria e quanto preconceito teríamos que assistir.

Ele, que gostava de brincar no recreio e na saída da escola com os amigos, um dia se surpreendeu enquanto se divertia com uma de suas coleguinhas: foi avisado que o pai da menina não o queria por perto dela. Mas se esqueceu do aviso e um dia quando estava no pátio foi surpreendido pelo pai da garota que, batendo nele, gritava para que ele se afastasse da menina. Foi uma situação bastante constrangedora.

A diretora da escola me chamou para conversar. Muito preocupada com a reputação da escola, me comunicou o ocorrido. Levei nosso menino para casa – que, àquela altura, chorava de soluçar. Em busca de uma solução, perguntei: “Meu filho, você quer que eu denuncie o que aconteceu?”, e para minha surpresa ele respondeu: “Vó, vou preferir entregá-lo nas mãos de Deus, com certeza vai ser melhor.”