Vicky Tavares
Tinha apenas quatro meses quando fui
buscá-la. Pela primeira vez vi um bebe tomando coquetel. Era muito magrinha, a
cabeça enorme, não se mexia como uma criança normal e respirava com
dificuldade. Os olhinhos eram negros e caídos e o rosto com
expressão de dor e sofrimento. Notava-se que vivia deitada, a parte de trás cabeça
estava bem achatada.
Foi entregue a uma instituição na
cidade de Osfaia em Luziânia pelo Conselho Tutelar de lá. Na certidão existia apenas
o nome da mãe. Vim com ela no colo no carro da nossa instituição. Tinha
muita fome. Assim que cheguei
preparamos uma mamadeira. Ela mamou com dificuldade. Observei que não
tomava os remédios nos horários certos.
Uma semana depois tivemos que
interná-la com pneumonia aguda. No hospital eu via as enfermeiras com
carinhas tristes ao olhar para aquela menininha. Perguntei - É um caso grave
né? E me respondiam que sim. Ela estava muito fraquinha e não conseguia comer. Tomava
apenas soro.
No primeiro dia fiquei lá
ao lado do berço olhando para ela e pedindo a Deus pela aquela vida.
No entanto ela não reagia. Segundo, terceiro, quarto, quinto e sexto dia,
nada... Continuava imóvel e eu não saía de lá. Assim que tinha
oportunidade corria para o hospital para ficar ao lado dela.
Achei então que deveria conversar com
ela e comecei. Fazia declarações de amor, beijava e a abraçava com todo
o meu carinho. Chegamos ao décimo dia de internação. Neste dia bem
cedinho, quando olhei para ela, ela esboçou um sorriso. Pensei, meu
Deus ela já me reconhece! Fiquei muito feliz. Fui até a cozinha do hospital e
fiz um mingau bem gostoso, com a certeza que tinha conquistado aquele
coraçãozinho.
Não deu outra, ela tomou tudinho.
Saímos do hospital apaixonadas uma pela outra. Já não tinha mais jeito estávamos
envolvidas demais. Interessante que a ela eu não ensinei a chamar de vovó Vicky
e sim de mãe.
Minha garotinha foi se desenvolvendo
naturalmente. Teve muita dificuldade para andar. Dra. Élida, nossa
fisioterapeuta voluntária, ia toda semana ajudá-la a andar. Passei um dever
para uma das meninas da casa, de ajudá-la nos exercícios
recomendados. Demorou muito além da idade que normalmente as crianças
andam, mas quando começou, ah quando começou! já saiu correndo! E... Como
corre!
Só internou mais uma vez quando teve
catapora, o que é normal para quem é portador. Tem que isolar. Sofreu muito,
pois já era muito apegada a mim. Por isso que eu acho que nunca mais
voltou. Graças a Deus!
Sua mãe apareceu
algumas vezes na instituição, era alta, negra e muito alegre. Morava na rua com
o namorado. Não se tratava e não estava nem aí para os remédios. Faleceu
de câncer! Estive algumas vezes com ela. Sempre me pedia para adotar a
filha, pois ela não podia ficar com a menina.
Final do ano passado recebi
um telefonema que mudou a minha vida! Fomos informados que ela estava
cadastrada para adoção! Entrei em pânico só de pensar que outra família ficaria
com ela. Será que iam saber cuidar dela? E eu saberia viver sem ela? Seria
egoísmo meu?Deixei o amor falar mais alto e me inscrevi para adotá-la.
Desde o início do ano de 2011 ela está comigo. Tenho a guarda provisória e
aguardo ansiosa a definitiva.
Somos grandes amigas,
eu cuido dela e ela de mim. Entendemos-nos pelo olhar. Somos cúmplices! Sofremos
muito preconceito, ela é negra, tem HIV e eu uma idade avançada para ser mãe
dela. Todo dia me beija e diz - mãezinha, obrigada por cuidar de mim! E eu
repondo: Imagina minha filha, eu que agradeço por você fazer parte da minha
vida!
Deus é fiel e poderoso para transformar todas as maldições em bênçãos, tristezas em alegrias, guerra em paz...
ResponderExcluirO mesmo Deus que não impediu que Daniel fosse para a cova dos leões, mas esteve com ele na cova; agiu e continua agindo na vida da Maria, da Vicky e de muitas pessoas que se propoem a fazer a vontade dEle.
Que ELE com seu infinito amor e misericórdia, continue abençoando a preciosa vida da Vicky Tavares e assim muitas almas serem salvas para a honra e glória do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Vovo Vicky tudo ficara bem. Que belo relato.
ResponderExcluirQue Deus vos ilumine sempre.
Vicky! Novamente me emociono ao leu seu relato. Acompanhei essa caminhada e hoje vejo as duas felizes!!!! Sei que Maria não poderia ter um LAR melhor do que o seu! Vocês fazem muito bem uma à outra!
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