Vicky
Tavares
Já
está escrito nas estrelas que ele vai ser jogador de futebol. A minha torcida é
apenas contra as drogas. Ele tem nome de Papa, ela muito linda, cabelos como os
da Vanessa da Mata. Ele se livrou do vírus HIV, ela não teve a mesma sorte.
Quando
chegaram choravam muito. O Conselho Tutelar tinha recebido reclamação dos maus
tratos sofridos pelos menores. A mãe colocava-os para trabalhar como
pedintes. A garotinha com HIV estava bastante debilitada. Era uma criança
assustada. A impressão que tínhamos é que era maltratada.
Foi
confirmado, no dia que a mãe foi visitá-la. Depois que ela saiu olhei para a
mão da minha amiguinha e lá estava a marca de um beliscão. Fiquei chocada!
Assim... do nada. O menino ela tratava bem. Muitas vezes o preconceito começa
na família e continua na sociedade que às vezes chega a requintes de
crueldade.
Fiquei
com um pé atrás com a mãe, em outra visita queimou com cigarro o braço dela.
Imediatamente proibi a visita deles (da mãe e do padrasto), mas eles nem
insistiram. Estavam visitando no intuito de pegar a guarda de novo para usá-los
nas ruas. Logo sumiram e nem quiseram mais saber da existência das crianças.
Só
quem procurava era a avó paterna. Ligava, preocupada com os meninos. Ficamos
amigas e conversávamos muito. Então falei para ela procurar a VIJ para
tentar a guarda dos infantes. Enquanto não acontecia, ela vinha de
Goiânia para ficar com eles. Hospedava-se na instituição. Uma vovó muito
querida!
Nossa
Vanessa da Mata era extrovertida, tinha um belo sorriso, e não dava trabalho
para tomar o coquetel. Seus olhos brilhavam quando me via, tínhamos uma relação
muito amável, procurava ser muito carinhosa com ela porque sua relação com as
pessoas era de medo.
Com o
tempo de convivência ela foi adquirindo confiança e foi se
soltando mais e mais. Ficou mais carinhosa e tinha muita paciência com o
nosso Papa que pulava o dia todo. Não podia ver uma bola que enlouquecia e
como jogava! Era corajoso, passava por todo mundo não
importava o tamanho e sapecava na rede e saía gritando Gollllll!. Protegia a
irmã mesmo sendo mais novo que ela dois anos. Brigava com todo mundo para
defendê-la. Não entendia nada sobre o vírus mas sabia que ela precisava de
cuidados maiores do que os dele.
Chegou
o dia que a guarda saiu para a avó paterna e ela veio toda feliz buscá-los. Ainda
ficou o final de semana conosco. Eu como sempre dividida, feliz porque eles
teriam um lar e triste porque sentiria a falta deles. E como senti!
Durante alguns meses vinham nos visitar, passar finais de semana, mas o
tempo, que se encarrega de muitas coisas e uma delas é de colocar as coisas
no seu devido lugar, tomou suas providências. Não vieram mais nos visitar,
de vez em quando a vovó me liga para dar notícias.
Eles
estão bem. Ele jogando muita bola e ela continua fazendo o tratamento antirretroviral.
Também está escrito nas estrelas que ela será muito feliz e viverá por muitos e
muitos anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário