Vicky Tavares
Portador do vírus HIV tinha grande dificuldade de desenvolvimento. Os 5 anos de Marlon pareciam 3. A mãe já havia entregado a filha mais velha para o pai, que também é portadora do vírus. Resolveu ficar com Marlon porque o pai não o aceitava. Não acreditava que ele fosse filho dele, colocou na cabeça que a mulher o traía. Desconfiava de Joana e a odiava.
Linda, inteligente e educada ela me explicou não ter condições de criar Marlon. Tinha medo que ele morresse, pois era muito fraquinho mesmo. Não falava quase nada, era muito tímido e reservado. Interessante que comia bem e era muito capaz. Nos estudos não nos dava nenhum trabalho e nunca recebíamos reclamações da escola sobre seu comportamento.
Todo final de semana ela ia buscá-lo e trazia aos domingos à noite. Era responsável com o filho. Dava os remédios na hora certa e sempre passava todas as informações do infante. A criança ficou alguns anos na instituição. De vez em quando adoecia, sua saúde era debitada. Sua carga viral não baixava e isso me era preocupante.
Algum tempo depois veio a notícia que Joana estava grávida. Marlon ficou feliz, pois iria ganhar um irmãozinho para brincar nos finais de semana. Ela fez o Pré-Natal certinho. Tomou o coquetel religiosamente, fez parto cesárea e tomou todas as providências para que seu filho (sexo masculino) nascesse sem o vírus. E, deu certo.
Joana era apaixonada pelo pai da criança, mas ele tinha um relacionamento com outra pessoa e por conta disso brigavam muito. Marlon nem mais queria ir os finais de semana. Acho que algumas vezes o pai bateu na mãe.
Depois do nascimento, a criança ficou com Joana. Ela se dedicava muito ao filho menor. Notei que Marlon ficava enciumado. Entristecia-me muito o fato dela colocá-lo para cuidar do bebê. O irmão foi crescendo e cheio de energia dava trabalho demais a todos. Quando ia buscar o filho levava sempre o garotinho que em segundos derrubava tudo na casa. Nosso Marlon ficava correndo atrás dele e era impressionante o amor, a paciência e a dedicação que tinha com o irmãozinho.
Bem, chegou o dia da reintegração familiar. Gostava de ficar na Casa, se despediu de mim com os olhos assustados e cheios de lágrimas. Toda consulta das crianças e adolescentes do Vida Positiva eu acompanho e numa dessas idas perguntei para a médica infectologista se tinha notícias dele. Fiquei sabendo que mudou de Brasília. Ele está em minhas orações. Seu corpo magrinho, franzino, sua voz rouca e seu medo pela vida estarão para sempre em minha memória!
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